Pequena Flor de Laranjeira

Pequenas crônicas, pequenos contos. Textos semanais. Por Adriana Taets.

Seis palavras

Abro uma nova página em branco no word, digito o início de um trabalho, um documento, uma prova, um trabalho. Paro. Lá embaixo na tela, na borda do trabalho há uma indicação: 6 palavras. Era tudo o que eu tinha conseguido fazer. 6 palavras. E as palavras eram prova, final, sociologia da educação, e acho que um ponto final, que contou como palavra também. O cursor continuou piscando. 6 palavras. Se ele queria mais, se ele esperava, eu não sei. Com 6 palavras eu escrevia um haikai, mas eu não sei escrever haikai, se fosse escrever um haikai ele teria 255 palavras, pelo menos. E é nesse abismo que caminho diariamente, cotidianamente: um silêncio de 6 palavras, e uma profusão de frases confusas repetitivas inexatas inacabadas computando um total de 667 palavras que não dizem nada e significam menos, sempre menos.

Eu queria o haikai. Eu queria a palavra exata. O sentido pleno em 3 palavras. Um mundo inteiro em uma frase. Eu queria descrever o olhar em oito palavras. Dizer das cores do céu por trás do seu olhar em sete palavras. Dizer, meticulosamente, o perfume que seu corpo exala, em seis palavras. Lembrar do seu sorriso em cinco. Rir com você em quatro. Pular a casa três. E dizer, ao final, amo você.

Mas não sei fazer isso. Não sei dizer. Nem seis palavras. Nem 229.

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