Pequena Flor de Laranjeira

Pequenas crônicas, pequenos contos. Textos semanais. Por Adriana Taets.

Arquivo de doçura

Velhas, caducas e amantes

Sim, é preciso ser mais feliz. Não é de bom tom ficar triste demais por longo tempo. É preciso ser feliz. É preciso fazer algo, sair do lugar, tomar novos ares, espantar a tristeza. É preciso ir à praia, comprar uma câmera fotográfica, beber um licor bem colorido, ver o pôr do sol. É preciso ser feliz.

E para isso é preciso, talvez, fazer novos amigos, reencontrar os antigos, experimentar novos cafés, ler um livro com cheiro de novo, ser o último a sair da festa. É preciso esquecer os velhos problemas, que de tão velhos já ficaram caducos.

E no meio de tanta alegria a tristeza ainda espreita. Fica na esquina olhando o vento nos bater ao rosto e ri do cabelo em alvoroço. Sabe bem, a senhora tristeza, que os problemas continuam ali, velhos, caducos, mas companheiros. Sabe ainda que a festa não trouxe os velhos amigos de volta e o coração ainda soluça em meio à multidão.

É a tristeza quem nos aguarda em casa, sozinhos à noite, e nos faz companhia. Paciente, ela espera o fim da festa, o fim dos brindes, e nos acolhe no silêncio que resta depois do último gole. E quando nos enganamos, acreditando mesmo que estamos sendo felizes, ela se cala, nos deixa acreditar na felicidade por uns instantes, uns instantes apenas.

E só quando paramos de buscar a alegria a todo custo é que a senhora tristeza nos sussura ao ouvido que é ela quem dá a mão para a felicidade, e que só saberemos ser felizes se aprendermos a conviver com essas duas senhoras, velhas, caducas e amantes.